quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A EVOLUÇÃO DA COMUNICAÇÃO

         
Primeiramente cabe responder de qual comunicação estamos falando ? Aristóteles, o primeiro a refletir sistematicamente sobre o processo de comunicação, disse que numa situação retórica há que se distinguir três elementos: o que fala, do que fala e a quem fala (apud Hohlfeldt, 2001, p. 78). Significa isto, que há muito tempo falar de emissor, mensagem e receptor esta associado a comunicação, apesar de atualmente se compreender que é muito mais do que o simples ato de enviar uma mensagem de um emissor para um receptor. Compreendo que a comunicação é antes uma poderosa ferramenta que utilizamos diariamente na convivência com os agentes que nos envolvem, influenciando e sendo influenciados em um intenso processo de trocas. Segundo o Dicionário de Comunicação, elaborado por Rabaça e Barbosa (2002) ,define-se comunicação pelo conceito e abrangência:


Conjunto dos conhecimentos (lingüísticos ,psicológicos ,antropológicos , sociológicos,filosóficos,cibernéticos etc.) relativos aos processos de comunicação.
Disciplina que envolve esse conjunto de conhecimentos e as técnicas adequadas à sua manipulação eficaz (...)
A palavra deriva do latim communicare , cujo significado seria tornar comum ,partilhar ,repartir , associar,trocar opiniões ,conferenciar . Implica participação ,interação,troca de mensagens ,emissão e recebimento de informações novas . ( Dicionário de Comunicação, 2005:155 )


Buscando em qualquer outro dicionário o termo comunicação, encontramos várias explicações, vários signos e referências diferentes para explicar, mas algo de coincidente é possível observar quando se trata do fato de que a comunicação é o ato de colocar em comum, tornar acessível o conhecimento daquilo que se quer tratar. O próprio Dicionário de Comunicação, propõe ampliar essa definição incluindo diferentes abordagens, autores e conceitos. Deste subtraio e transcrevo a abordagem de Colin Cherry, B.Berelson e G.Steiner que estão em concordância com a proposta nesta dissertação , restringindo a comunicação entre seres humanos interagindo em uma unidade organizacional .

Comunicação é o “estabelecimento de uma unidade social entre seres humanos ,pelo uso de signos de linguagem .(...) Comunicação não é a resposta em si mesma ,mas é essencialmente a relação que se estabelece com a transmissão do estímulo e a evocação da resposta” (Colin Cherry)
Transmissão de informações ,idéias ,emoções ,habilidades,etc. , por meio do uso de símbolos – palavras ,imagens ,figuras e gráficos etc.É o ato ou processo de transmissão que geralmente recebe o nome de comunicação .
(B.Berelson e G.Steiner)
( Dicionário de Comunicação, 2005:155-157 )


Esta definição também está em concordância com a citada por Martino (2001); diz ele ,comunicação (...) refere-se ao processo de compartilhar um mesmo objeto de consciência, exprime a relação entre consciências, ou entre seres humanos. O autor, porém destaca a importância do entendimento do termo comunicação na atualidade como uma palavra polissêmica, já que pode ser encontrada com sentidos diferenciados. Alguns exemplos citados por ele são as utilizações feitas do termo comunicação nos sentidos da informação em si ou mensagem ou como vias de comunicação que podemos simbolizar como o caminho para que a comunicação aconteça.
Na etimologia da palavra comunicação, citada pelo mesmo autor, amplia ainda mais o entendimento e compreensão propostos para esse campo de pesquisa,


O termo comunicação vem do latim communicatio, do qual distinguimos três elementos: uma raiz munis, que significa estar encarregado de, o prefixo co, o qual expressa simultaneamente, reunião,  temos a idéia de uma atividade realizada conjuntamente. Com o complemento da terminação tio, se reforça a idéia de atividade. E, efetivamente, foi este o seu primeiro significado no vocabulário religioso aonde o termo aparece pela primeira vez. 
(MARTINO, 2001:)


Se definirmos comunicação como o ato de colocar em comum, estamos relacionando à própria etimologia da palavra que pode também ser associado à comunidade ter algo em comum, ser membro de um mesmo conjunto de representações sígnicas da comunidade ou organização tendo uma atividade realizada conjuntamente. Como diz Wilbur Schramm “quando nos comunicamos tratamos de estabelecer uma comunidade” , portanto comunicar significa estabelecer comunhão , participar da comunidade através de troca constante de informações . Trata-se de comungar alguma prática, fazer alguma coisa juntamente com outras pessoas, uma espécie de ação ou hábito coletivo que se transfere e processa por estar no mesmo ambiente com os mesmos referenciais. Obviamente, estarei usando esse significado por estar associado ao vocabulário religioso, aonde o termo aparece pela primeira vez, e portanto influencia e coopera na proposta desta pesquisa, já que estarei pautando em comunicação organizacional e é a organização consolidada por um grupo de pessoas com algo em comum com um conjunto de signos em comum .
Nas palavras de Devito (1997: p. 20-31)


comunicação é um pacote de signos (...) é um processo de ajustamento; a comunicação envolve conteúdo e dimensões relacionais; as seqüências comunicativas são pontuadas [...] a comunicação é transacional; a comunicação é inevitável, irreversível e irrepetível.


Quando a comunicação é vista assim, como um processo transacional e cada pessoa são ao mesmo tempo, emissores e receptores, simultaneamente enviando e recebendo mensagens e, portanto, além da fala, as expressões não-verbais, como o olhar, a postura do corpo e a maneira de se vestir, também são formas importantes de se comunicar, pois carregam um conjunto de informações sobre as pessoas e grupos  . Tudo comunica algo a alguém .


O existir do homem só é possível por meio da comunicação. Ela permeia toda sua vida. Em qualquer momento ou lugar, onde existe vida humana, existe comunicação. Imaginemos que os tijolos só conseguem sustentar a parede se houver a massa ,de cimento ou barro ,unindo-os firmemente.
Se compararmos o mundo (organização) a uma imensa casa e as pessoas sendo os tijolos, então a massa que une esses tijolos é a comunicação .
 ( Dicionário de Comunicação, 2005:157 )

Sem a comunicação não haveria sociedade, nos alerta Lima (1989), na introdução de seu livro História e Comunicação, parafraseando, acrescento sem comunicação não haveria organização, muito menos organizações estruturadas como transformadoras de bens e serviços. Tratando da evolução do homem em seus atos cotidianos ainda insiste Lima,


A comunicação acompanha o homem em seus atos da vida cotidiana ,e ele se vale de vários meios para transmitir suas mensagens:usa seu corpo, mãos, olhar, expressão facial; sons, da própria voz ao toque do tambor ou
a mais avançada música eletrônica; grava sinais em pedras, madeira ou papel, e recentemente, inventou sofisticadas máquinas eletrônicas(...) Da pré-história a nossa era tecnológica, a Comunicação evoluiu. LIMA (89)


Ainda descrevendo e limitando o entendimento da palavra comunicação, por mim empregada no texto, creio ser necessário que se delimite também o campo da discussão, pois o caminho a ser percorrido poderá levar a diversas áreas do conhecimento e com isso ampliar profundamente as análises possíveis e necessárias que não são o foco desta dissertação.
Serão inseridos como parte do contexto alguns fatos relevantes para mencionar como a comunicação se desenvolveu ao longo do século XX e assim , explorar a inter-relação do crescimento ocasionado pelo reforço teórico e prático criado dentro das Ciências Humanas e das Ciências da Comunicação, promovendo cada vez mais uma coincidência e interdisciplinaridade entre a comunicação, as ciências sociais e as humanas , das quais pretendo explorar particularmente a Ciência da Administração.
 
Administração de empresas , Comunicação e produtividade

Segundo o psiquiatra Torquato (1995), colocar o ser humano como o centro do processo produtivo não é tão simples. Muitas vezes, o ser complexo, emotivo, misterioso e imprevisível parece não combinar com a racionalidade necessária às empresas. Entretanto, é sabido que o fator humano é imprescindível para o sucesso de qualquer empreendimento. Portanto, o conhecimento das necessidades humanas facilita a motivação e a definição de estratégias de gestão e a comunicação o fenômeno universal que satisfaz a interação das pessoas em qualquer ambiente organizado.
Martino (2001) já ressalta que é necessário rever o que as grandes escolas chamam de cultura de massa e o que elas designam de meios de comunicação, como umas formas de buscar um maior entendimento dentro do que pode ser uma forma de interdisciplinaridade da comunicação. Ele cita alguns exemplos aqui como as definições feitas pelo funcionalismo norte-americano, e a Escola de Frankfurt. Diz ainda que é importante a valorização destes termos citados anteriormente (cultura de massa e meios de comunicação) já que exigem uma reciprocidade e uma complementação.
Baseado na bibliografia e nas discussões acadêmicas vigentes é possível, então, perceber que cada dia mais o pensamento comunicacional e a própria comunicação estão sendo construída e reforçada enquanto posicionamento científico. Amparado sim, por outras ciências, mas sempre criando novas formulações específicas e ampliando as discussões no seu entendimento enquanto construção de práticas e teorias que lhe são peculiares e que oferecerão sempre mais suporte no seu fortalecimento.  De qualquer forma é importante entender que, na comunicação acontece uma consubstanciação de pensamentos e conhecimentos que se faz necessária para a melhor compreensão do que é essa nova ciência que trata de algo tão próximo e necessário ao homem.
Ainda no mesmo autor encontra-se que


a natureza interdisciplinar dos estudos de comunicação deve ser interpretada como o concurso de disciplinas independentes (Sociologia, Psicologia, Lingüística,...) que guardam seus interesses específicos (MARTINO, 2001, p. 36).


Essa citação demonstra que a relação entre os mais diversos campos do conhecimento está cada vez mais contribuindo na construção do conhecimento em comunicação, mas sem nunca deixar de lado a proteção de seus aspectos mais próprios e particulares.


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