Comunicação através de Imagens
No “princípio” o homem se utilizava de linguagem rudimentar, a fala se resumia as poucas palavras, não havia a escrita. Quando o homem viu um animal ou algum elemento da natureza e tentou passar a informação com detalhes lhe faltou meio para descrevê-los, passou então a rabiscar desenhos, tentando de alguma forma comunicar esses detalhes. Ao desenhar percebe que passou muito mais informação e característica e com uma maior combinação de signos passou uma interpretação mais clara com formas e detalhes, antecipando aqui obviamente o surgimento da formação de palavras e do texto. Compreendo assim que a vontade de reproduzir o que está a sua volta e a tentativa de tornar comum acompanha a evolução humana desde os primórdios. Como ensina o provérbio popular: “Uma imagem pode dizer mais do que mil palavras”. O desenho em cavernas e parede de locais usados como proteção pelo homem rudimentar, reflete o desejo de manter a imagem do que se via e passar adiante.
O desenho vai ganhando contornos e significados mais detalhados e evoluiu para pinturas melhor elaboradas, que agora representavam, além da visão de um determinado instante do objeto, as habilidades dos pintores continham detalhes e sentimentos capazes também de comunicar e registrar os hábitos e costumes e a própria evolução das civilizações nelas representadas. Uma conclusão antecipada é que a imagem reproduzida desde as pinturas mais rudimentares não nasce sem significado e pode carregar uma grande força simbólica e ser codificada com uma imensidade de significados sobre os objetos representados.
Para Platão, a imagem seria um objeto com relação a outro que ela representaria de acordo com certas leis naturais de reflexo, esquematizando visualmente as pessoas e os objetos do mundo real (JOLY: 1996,14). Conforme Platão (in JOLY: 1996,13):
"Chamo de imagens em primeiro lugar as sombras, depois os reflexos que vemos nas águas ou na superfície de corpos opacos, polidos e brilhantes e todas as representações do gênero."
Neste sentido o emprego de imagem em Platão não é aplicável no contexto que pretendo tratar nesta dissertação e recorrerei novamente a JOLY para ao menos tentar entender a amplitude do termo imagem e responder dê qual imagem quero tratar nesta dissertação, diz :
“O termo imagem é tão utilizado, com tantos tipos de significação sem vínculo aparente, que parece bem difícil dar uma definição simples dele, que recubra todos os seus empregos (...) compreendemos que indica algo que, embora nem sempre remete ao visível, toma alguns traços emprestados do visual e, de qualquer modo, dependem da produção de um sujeito. Imaginária ou concreta, a imagem passa por alguém que a produz ou reconhece” (JOLY, 1996, 13-14).
Portanto, a imagem, é uma "produção humana que visa estabelecer uma relação com o mundo" (JOLY: 1996,59). Assim, é um registro que serve para ver o próprio mundo e interpretá-lo, pois é um instrumento de conhecimento e história ao fornecer informações sobre os objetos, os lugares ou as pessoas, em formas visuais tão diversas, e preservá-los no tempo. Obviamente somente terá sentido em exercer seu papel na comunicação se os símbolos e códigos forem conhecidos e as formas visuais tiverem o mesmo significado atemporal.
Mas é possível que a imagem reproduzida não tenha relação com o mundo por mim conhecido e pode servir para novas interpretações de símbolos e códigos.
Como exemplo da aplicação dos símbolos e códigos que são amplamente empregados pela imagem para conotar e definir o objeto ,tomarei emprestado a explicação de BISPO no seu artigo intitulado “A retórica da conotação e os sentidos gradativos da imagem” onde ele utiliza como ilustração o filme ”Os Deuses devem estar loucos” (The Gods Must Be Crazy-EUA-1980) dirigido por Jamie Uys, o filme trata sobre uma garrafa de coca-cola que foi lançada de um avião sobre uma tribo africana que passa considera-lá um presente dos deuses . Em pouco tempo a garrafa gera uma série de conflitos fazendo com que um nativo fosse encarregado de devolvê-la. Neste caso a garrafa (objeto) foi empregada em diversas atividades cotidianas daquela tribo para que adquirisse um significado (sentido, representação) um presente dos deuses. O objeto passou a desestabilizar a estrutura harmoniosa daquela comunidade. Neste caso, os habitantes da tribo (interpretante) atribuíram a este artefato outro significante a partir dos signos anteriores , associando não mais como um presente e sim como um castigo divino. Após construírem um novo significante da garrafa, os habitantes desta tribo estabeleceram outro significado para o fato e resolveram devolver o presente aos deuses, escolhendo um guerreiro para devolver a garrafa. Com esse breve exemplo, torna-se possível verificar que o estudo da semiótica, na imagem, não se faz isoladamente mais é necessário observar todo um contexto cultural .
Neste prisma é que semiótica apresenta a moldura fundamental para a compreensão do fenômeno da semiose como processo de significação. Um claro exemplo é quando os artistas habilidosos assumem na pintura esse compromisso , o que Benjamim define como a “aura” da arte que imprimi esses detalhes e sentimentos do artista, sobre a sua arte . Sobre este aspecto voltarei a mencionar , associando essa implicação ao objeto de minha pesquisa .
É portanto o desenho rubreste e a pintura a gênese da comunicação imagética evoluindo para pinturas mais sofisticada ou mais completa, elaborada por esses artistas, que podemos “rotular” como sendo o conjunto de signos e os primeiros recursos para o registro das imagens capazes de comunicar e influenciar as pessoas, obviamente até a invenção da fotografia.
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