quinta-feira, 26 de agosto de 2010

COMUNICAÇÃO ATRAVÉS DE IMAGENS

Comunicação através de Imagens

No “princípio” o homem se utilizava de linguagem rudimentar, a fala se resumia as poucas palavras, não havia a escrita. Quando o homem viu um animal ou algum elemento da natureza e tentou passar a informação com detalhes lhe faltou meio para descrevê-los, passou então a rabiscar desenhos, tentando de alguma forma comunicar esses detalhes. Ao desenhar percebe que passou muito mais informação e característica e com uma maior combinação de signos passou uma interpretação mais clara com formas e detalhes, antecipando aqui obviamente o surgimento da formação de palavras e do texto. Compreendo assim que a vontade de reproduzir o que está a sua volta e a tentativa de tornar comum acompanha a evolução humana desde os primórdios. Como ensina o provérbio popular: “Uma imagem pode dizer mais do que mil palavras”. O desenho em cavernas e parede de locais usados como proteção pelo homem rudimentar, reflete o desejo de manter a imagem do que se via e passar adiante.
O desenho vai ganhando contornos e significados mais detalhados e evoluiu para pinturas melhor elaboradas, que agora representavam, além da visão de um determinado instante do objeto, as habilidades dos pintores continham detalhes e sentimentos capazes também de comunicar e registrar os hábitos e costumes e a própria evolução das civilizações nelas representadas. Uma conclusão antecipada é que a imagem reproduzida desde as pinturas mais rudimentares não nasce sem significado e pode carregar uma grande força simbólica e ser codificada com uma imensidade de significados sobre os objetos representados.
Para Platão, a imagem seria um objeto com relação a outro que ela representaria de acordo com certas leis naturais de reflexo, esquematizando visualmente as pessoas e os objetos do mundo real  (JOLY: 1996,14). Conforme Platão (in JOLY: 1996,13):

"Chamo de imagens em primeiro lugar as sombras, depois os reflexos que vemos nas águas ou na superfície de corpos opacos, polidos e brilhantes e todas as representações do gênero."
Neste sentido o emprego de imagem em Platão não é aplicável no contexto que pretendo tratar nesta dissertação e recorrerei novamente a JOLY para ao menos tentar entender a amplitude do termo imagem e responder dê qual imagem quero tratar nesta dissertação, diz :

“O termo imagem é tão utilizado, com tantos tipos de significação sem vínculo aparente, que parece bem difícil dar uma definição simples dele, que recubra todos os seus empregos (...) compreendemos que indica algo que, embora nem sempre remete ao visível, toma alguns traços emprestados do visual e, de qualquer modo, dependem da produção de um sujeito. Imaginária ou concreta, a imagem passa por alguém que a produz ou reconhece” (JOLY, 1996, 13-14).

Portanto, a imagem, é uma "produção humana que visa estabelecer uma relação com o mundo" (JOLY: 1996,59). Assim, é um registro que serve para ver o próprio mundo e interpretá-lo, pois é um instrumento de conhecimento e história ao fornecer informações sobre os objetos, os lugares ou as pessoas, em formas visuais tão diversas, e preservá-los no tempo. Obviamente somente terá sentido em exercer seu papel na comunicação se os símbolos e códigos forem conhecidos e as formas visuais tiverem o mesmo significado atemporal.
Mas é possível que a imagem reproduzida não tenha relação com o mundo por mim conhecido e pode servir para novas interpretações de símbolos e códigos.
Como exemplo da aplicação dos símbolos e códigos que são amplamente empregados pela imagem para conotar e definir o objeto ,tomarei emprestado a explicação de BISPO no seu artigo intitulado “A retórica da conotação e os sentidos gradativos da imagem” onde ele utiliza como ilustração o filme ”Os Deuses devem estar loucos” (The Gods Must Be Crazy-EUA-1980) dirigido por Jamie Uys, o filme trata sobre uma garrafa de coca-cola que foi lançada de um avião sobre uma tribo africana que passa considera-lá um presente dos deuses . Em pouco tempo a garrafa gera uma série de conflitos fazendo com que um nativo fosse encarregado de devolvê-la. Neste caso a garrafa (objeto) foi empregada em diversas atividades cotidianas daquela tribo para que adquirisse um significado (sentido, representação) um presente dos deuses. O objeto passou a desestabilizar a estrutura harmoniosa daquela comunidade. Neste caso, os habitantes da tribo (interpretante) atribuíram a este artefato outro significante a partir dos signos anteriores , associando não mais como um presente e sim como um castigo divino. Após construírem um novo significante da garrafa, os habitantes desta tribo estabeleceram outro significado para o fato e resolveram devolver o presente aos deuses, escolhendo um guerreiro para devolver a garrafa.  Com esse breve exemplo, torna-se possível verificar que o estudo da semiótica, na imagem, não se faz isoladamente mais é necessário observar todo um contexto cultural .
Neste prisma é que semiótica apresenta a moldura fundamental para a compreensão do fenômeno da semiose como processo de significação. Um claro exemplo é quando os artistas habilidosos assumem na pintura esse compromisso , o que Benjamim define como a “aura” da arte que imprimi esses detalhes e sentimentos do artista, sobre a sua arte .  Sobre este aspecto voltarei a mencionar , associando essa implicação ao objeto de minha pesquisa .  
É portanto o desenho rubreste e a pintura a gênese da comunicação imagética evoluindo para pinturas mais sofisticada ou mais completa, elaborada por esses artistas, que podemos “rotular” como sendo o conjunto de signos e os primeiros recursos para o registro das imagens capazes de comunicar e influenciar as pessoas, obviamente até a invenção da fotografia. 

Divisão da sociedade em classes sociais

Diz Dobb sobre a divisão do trabalho dentro da hierarquia estrutural , dizendo que elas acabam favorecendo essas diferenças de classes :


(...)leva-nos a considerar que a divisão do trabalho preconiza a divisão da sociedade em classes sociais, reforça as diferenças sociais e estabelece limites que de certa forma atuam como barreiras demarcadoras da ascensão em melhorar seu desempenho e conhecimento estabelecem hierarquias de poder e a própria organização industrial oferece recursos para isso.   DOBB


Sobre esse aspecto de separação de classes ,proponho duas reflexões , uma como leitura do diretor Fritz Lang,que já em 1927, quando projeta um futuro estruturado e separado em níveis em seu filme Metrópolis/Metropolis 1927 , mostra uma hierarquia projetada na sociedade , parecida com a de uma fábrica , onde a classe trabalhadora vive no subsolo (chão de fabrica - montagem ) e os detentores do poder se beneficiam da sua força de trabalho em outro nível de classe, acima das estruturas no solo (direção e controle) . 
Outra reflexão , pensar que a sociedade assimilou essa separação e não temos hoje um modelo contrario , veja a tentativa de sociedade contraria a esse modelo a que surge em 1922, dentro dos planos da Revolução Russa. Esta liderada por Lênin e Leon Trotsky que idealizavam uma sociedade igualitária, com direitos e deveres iguais para todos, sem a exploração do homem pelo homem, tinha no Estado a figura do proprietário das terras, da grande indústria e dos bancos , e propunha uma sociedade sem desigualdades e sem classes sociais . De fato acreditavam que o sucesso do socialismo dependia de um programa de industrialização do país e que era necessário realizar um salto tecnológico como forma de se criar empregos e grandeza para nação . Essa imagem, associando felicidade , autonomia na produção industrial , aliado a um regime autoritário, perduraria por toda a existência da União Soviética . O regime fechado não demonstrava a falência de suas estruturas , deficiências das suas instituições e o sucateamento deste sistema e foi na sucessão de conflitos, resultando em sua queda que vimos o rompimento parcial com esse regime na década de 80 , momento de intensas transformações em todo o mundo e o surgimento de uma nova

O conflito e desafio em conviver em classes distintas esta em como transitar a comunicação alcançando uma linguagem para atingir objetivos comuns convivendo em mundos e acessos tão diferentes .Eis o ambiente desafiador para a comunicação organizacional .

A EVOLUÇÃO DA COMUNICAÇÃO

         
Primeiramente cabe responder de qual comunicação estamos falando ? Aristóteles, o primeiro a refletir sistematicamente sobre o processo de comunicação, disse que numa situação retórica há que se distinguir três elementos: o que fala, do que fala e a quem fala (apud Hohlfeldt, 2001, p. 78). Significa isto, que há muito tempo falar de emissor, mensagem e receptor esta associado a comunicação, apesar de atualmente se compreender que é muito mais do que o simples ato de enviar uma mensagem de um emissor para um receptor. Compreendo que a comunicação é antes uma poderosa ferramenta que utilizamos diariamente na convivência com os agentes que nos envolvem, influenciando e sendo influenciados em um intenso processo de trocas. Segundo o Dicionário de Comunicação, elaborado por Rabaça e Barbosa (2002) ,define-se comunicação pelo conceito e abrangência:


Conjunto dos conhecimentos (lingüísticos ,psicológicos ,antropológicos , sociológicos,filosóficos,cibernéticos etc.) relativos aos processos de comunicação.
Disciplina que envolve esse conjunto de conhecimentos e as técnicas adequadas à sua manipulação eficaz (...)
A palavra deriva do latim communicare , cujo significado seria tornar comum ,partilhar ,repartir , associar,trocar opiniões ,conferenciar . Implica participação ,interação,troca de mensagens ,emissão e recebimento de informações novas . ( Dicionário de Comunicação, 2005:155 )


Buscando em qualquer outro dicionário o termo comunicação, encontramos várias explicações, vários signos e referências diferentes para explicar, mas algo de coincidente é possível observar quando se trata do fato de que a comunicação é o ato de colocar em comum, tornar acessível o conhecimento daquilo que se quer tratar. O próprio Dicionário de Comunicação, propõe ampliar essa definição incluindo diferentes abordagens, autores e conceitos. Deste subtraio e transcrevo a abordagem de Colin Cherry, B.Berelson e G.Steiner que estão em concordância com a proposta nesta dissertação , restringindo a comunicação entre seres humanos interagindo em uma unidade organizacional .

Comunicação é o “estabelecimento de uma unidade social entre seres humanos ,pelo uso de signos de linguagem .(...) Comunicação não é a resposta em si mesma ,mas é essencialmente a relação que se estabelece com a transmissão do estímulo e a evocação da resposta” (Colin Cherry)
Transmissão de informações ,idéias ,emoções ,habilidades,etc. , por meio do uso de símbolos – palavras ,imagens ,figuras e gráficos etc.É o ato ou processo de transmissão que geralmente recebe o nome de comunicação .
(B.Berelson e G.Steiner)
( Dicionário de Comunicação, 2005:155-157 )


Esta definição também está em concordância com a citada por Martino (2001); diz ele ,comunicação (...) refere-se ao processo de compartilhar um mesmo objeto de consciência, exprime a relação entre consciências, ou entre seres humanos. O autor, porém destaca a importância do entendimento do termo comunicação na atualidade como uma palavra polissêmica, já que pode ser encontrada com sentidos diferenciados. Alguns exemplos citados por ele são as utilizações feitas do termo comunicação nos sentidos da informação em si ou mensagem ou como vias de comunicação que podemos simbolizar como o caminho para que a comunicação aconteça.
Na etimologia da palavra comunicação, citada pelo mesmo autor, amplia ainda mais o entendimento e compreensão propostos para esse campo de pesquisa,


O termo comunicação vem do latim communicatio, do qual distinguimos três elementos: uma raiz munis, que significa estar encarregado de, o prefixo co, o qual expressa simultaneamente, reunião,  temos a idéia de uma atividade realizada conjuntamente. Com o complemento da terminação tio, se reforça a idéia de atividade. E, efetivamente, foi este o seu primeiro significado no vocabulário religioso aonde o termo aparece pela primeira vez. 
(MARTINO, 2001:)


Se definirmos comunicação como o ato de colocar em comum, estamos relacionando à própria etimologia da palavra que pode também ser associado à comunidade ter algo em comum, ser membro de um mesmo conjunto de representações sígnicas da comunidade ou organização tendo uma atividade realizada conjuntamente. Como diz Wilbur Schramm “quando nos comunicamos tratamos de estabelecer uma comunidade” , portanto comunicar significa estabelecer comunhão , participar da comunidade através de troca constante de informações . Trata-se de comungar alguma prática, fazer alguma coisa juntamente com outras pessoas, uma espécie de ação ou hábito coletivo que se transfere e processa por estar no mesmo ambiente com os mesmos referenciais. Obviamente, estarei usando esse significado por estar associado ao vocabulário religioso, aonde o termo aparece pela primeira vez, e portanto influencia e coopera na proposta desta pesquisa, já que estarei pautando em comunicação organizacional e é a organização consolidada por um grupo de pessoas com algo em comum com um conjunto de signos em comum .
Nas palavras de Devito (1997: p. 20-31)


comunicação é um pacote de signos (...) é um processo de ajustamento; a comunicação envolve conteúdo e dimensões relacionais; as seqüências comunicativas são pontuadas [...] a comunicação é transacional; a comunicação é inevitável, irreversível e irrepetível.


Quando a comunicação é vista assim, como um processo transacional e cada pessoa são ao mesmo tempo, emissores e receptores, simultaneamente enviando e recebendo mensagens e, portanto, além da fala, as expressões não-verbais, como o olhar, a postura do corpo e a maneira de se vestir, também são formas importantes de se comunicar, pois carregam um conjunto de informações sobre as pessoas e grupos  . Tudo comunica algo a alguém .


O existir do homem só é possível por meio da comunicação. Ela permeia toda sua vida. Em qualquer momento ou lugar, onde existe vida humana, existe comunicação. Imaginemos que os tijolos só conseguem sustentar a parede se houver a massa ,de cimento ou barro ,unindo-os firmemente.
Se compararmos o mundo (organização) a uma imensa casa e as pessoas sendo os tijolos, então a massa que une esses tijolos é a comunicação .
 ( Dicionário de Comunicação, 2005:157 )

Sem a comunicação não haveria sociedade, nos alerta Lima (1989), na introdução de seu livro História e Comunicação, parafraseando, acrescento sem comunicação não haveria organização, muito menos organizações estruturadas como transformadoras de bens e serviços. Tratando da evolução do homem em seus atos cotidianos ainda insiste Lima,


A comunicação acompanha o homem em seus atos da vida cotidiana ,e ele se vale de vários meios para transmitir suas mensagens:usa seu corpo, mãos, olhar, expressão facial; sons, da própria voz ao toque do tambor ou
a mais avançada música eletrônica; grava sinais em pedras, madeira ou papel, e recentemente, inventou sofisticadas máquinas eletrônicas(...) Da pré-história a nossa era tecnológica, a Comunicação evoluiu. LIMA (89)


Ainda descrevendo e limitando o entendimento da palavra comunicação, por mim empregada no texto, creio ser necessário que se delimite também o campo da discussão, pois o caminho a ser percorrido poderá levar a diversas áreas do conhecimento e com isso ampliar profundamente as análises possíveis e necessárias que não são o foco desta dissertação.
Serão inseridos como parte do contexto alguns fatos relevantes para mencionar como a comunicação se desenvolveu ao longo do século XX e assim , explorar a inter-relação do crescimento ocasionado pelo reforço teórico e prático criado dentro das Ciências Humanas e das Ciências da Comunicação, promovendo cada vez mais uma coincidência e interdisciplinaridade entre a comunicação, as ciências sociais e as humanas , das quais pretendo explorar particularmente a Ciência da Administração.
 
Administração de empresas , Comunicação e produtividade

Segundo o psiquiatra Torquato (1995), colocar o ser humano como o centro do processo produtivo não é tão simples. Muitas vezes, o ser complexo, emotivo, misterioso e imprevisível parece não combinar com a racionalidade necessária às empresas. Entretanto, é sabido que o fator humano é imprescindível para o sucesso de qualquer empreendimento. Portanto, o conhecimento das necessidades humanas facilita a motivação e a definição de estratégias de gestão e a comunicação o fenômeno universal que satisfaz a interação das pessoas em qualquer ambiente organizado.
Martino (2001) já ressalta que é necessário rever o que as grandes escolas chamam de cultura de massa e o que elas designam de meios de comunicação, como umas formas de buscar um maior entendimento dentro do que pode ser uma forma de interdisciplinaridade da comunicação. Ele cita alguns exemplos aqui como as definições feitas pelo funcionalismo norte-americano, e a Escola de Frankfurt. Diz ainda que é importante a valorização destes termos citados anteriormente (cultura de massa e meios de comunicação) já que exigem uma reciprocidade e uma complementação.
Baseado na bibliografia e nas discussões acadêmicas vigentes é possível, então, perceber que cada dia mais o pensamento comunicacional e a própria comunicação estão sendo construída e reforçada enquanto posicionamento científico. Amparado sim, por outras ciências, mas sempre criando novas formulações específicas e ampliando as discussões no seu entendimento enquanto construção de práticas e teorias que lhe são peculiares e que oferecerão sempre mais suporte no seu fortalecimento.  De qualquer forma é importante entender que, na comunicação acontece uma consubstanciação de pensamentos e conhecimentos que se faz necessária para a melhor compreensão do que é essa nova ciência que trata de algo tão próximo e necessário ao homem.
Ainda no mesmo autor encontra-se que


a natureza interdisciplinar dos estudos de comunicação deve ser interpretada como o concurso de disciplinas independentes (Sociologia, Psicologia, Lingüística,...) que guardam seus interesses específicos (MARTINO, 2001, p. 36).


Essa citação demonstra que a relação entre os mais diversos campos do conhecimento está cada vez mais contribuindo na construção do conhecimento em comunicação, mas sem nunca deixar de lado a proteção de seus aspectos mais próprios e particulares.


Frederick W. Taylor e Henry Ford

Compreendemos portanto que, apesar de antes da virada do século XX serem  empregados, alguns métodos de intensificação da produção na forma de se repetir tarefas, somente foram intensificados estudos científicos , a partir dos estudos de Frederick W. Taylor (1856-1915),que estava preocupado no sentido de eficiência, organização e racionalização do trabalho , o que trouxe o aspecto de divisão do trabalho e outras conseqüências .
Para alinhar à essa dissertação , uma conseqüência inquestionável , foi o poder de decisão para o topo da hierarquias constituídas de mestres e os níveis da base se concentram nas atividades produtivas subordinadas aos níveis superiores. Estas características de divisão de trabalho perduram até os dias de hoje nos sistemas hierárquicos com esta configuração produtiva, onde a classe pensante subordina a classe executora . Na sociedade reflete essa divisão , formando classes de interesse específicos e poder econômico diferenciados . Conforme Dobb ;


(...)leva-nos a considerar que a divisão do trabalho preconiza a divisão da sociedade em classes sociais, reforça as diferenças sociais e estabelece limites que de certa forma atuam como barreiras demarcadoras da ascensão em melhorar seu desempenho e conhecimento estabelecem hierarquias de poder e a própria organização industrial oferece recursos para isso.  ( DOBB 1988:pg. 284 )


Um ideário de hierarquia de poder e de bem estar e felicidade esta em  atuar nos seguimentos mais bem remunerados e adquirir poder de compra. No Ocidente principalmente nos Estados Unidos , por sua concepção de colonização , valorizou-se o esforço individual em busca da felicidade, recompensado pelo consumo de bens que podem tornar a vida mais amena e prazerosa e acima de tudo a acumulação de capital . Apregoa-se esse ideal aliado a felicidade e reforça-se a imagem de ser com o fato de ter, sendo a parte da definição de sucesso quase sinônimo de riqueza e bem-estar individuais. Foi nesta concepção ideológica que se concedeu um terreno fértil para evolução acelerada do capitalismo, onde os protagonistas são os industriários (o chamado ideal do self-made-man) .
Para compreensão podemos definir que um dos primeiros símbolos desse ideal foi o automóvel , por que para muitos americanos do início do século não havia felicidade sem um carro na garagem. O ideário e fortalecido e alimentado por Henry Ford (1836-1947), teve grande influência na construção do modo de vida americano, o criador da já mencionada esteira rolante, denominada linha de produção em série que foi amplamente usada para produção do automóvel e se estendeu para toda cadeia produtiva .Em resultado surge uma nova sociedade de consumo ;


Em todos os níveis do cotidiano houve mudanças. Surgia uma nova sociedade de consumo. (...) A sensação é de que se vivia um tempo de euforia, que nada mais tinha a ver com o momento pregresso, o momento de atraso representado pelo século XIX e pelas sociedades fechadas anteriores. (DOBB,1988 pg. 360)

Portanto o primeiro momento , responsável pelo fortalecimento das organizações manufatureiras dos Estados Unidos e em alguns países europeus, assim como de alguns dos chamados países em industrialização tardia , aonde se incluí o Brasil , é o movimento  fordista, elemento central desse modo de produção que ambienta a comunicação e o tipo de operário que estaremos analisando no Filme : Tempos Modernos ( 1936 ) .

A evolução do contexto capitalista















AMADURECIMENTO DA ORGANIZAÇÃO MANUFATUREIRA A PARTIR DA EVOLUÇÃO DO CAPITALISMO .

Sobre a evolução do contexto capitalista a qual estão inseridas as empresas , este trabalho está organizado de forma a observar momentos do século XX, como por exemplo o marco da produção em massa, com a Ford e o nascimento da chamada Administração Cientifica e já neste contexto citar o uso dos meios disponíveis como veículos de propagação. Outro momento, o período pós-guerra com o advento das técnicas de gestão japonesas, baseadas num sistema de instrução e envolvimento do operário como parte importante do crescimento. Todo esse processo que lembra muito a propaganda política com o uso intensivo da “comunicação de massa” como o rádio e a televisão que, na ocasião, estão em franco crescimento. Por fim, a aplicação moderna no uso do vídeo filme , o efeito da convergência dos meios, gerando indicadores comparativos possibilitados pela nova onda de expansão da comunicação da mensagem imagética, o intensivo uso de tecnologia, sobretudo a troca eletrônica de dados gerados pela internet. E principalmente o uso descontextualizado da imagem , visando compor um discurso .


Durante a abordagem dos temas cada tópico apresenta ma citação ou teórico  eventualmente às teorias de comunicação e as propostas de soluções para os problemas encontrados. Finalmente menciono, dentro das limitações, os resultados e apresento eventuais conclusões, tanto nas abordagens dos autores pesquisados como nas mencionadas durante a captação de informação nos públicos envolvidos, para que fique claramente definido aquilo que já foi construído. Evitarei assim as apropriações indébitas.

Eventuais adaptações serão consolidadas posteriormente , pois tenho ciência das conseqüências de se utilizar um método investigativo e argumentativo em ambiente que tudo se passa como se as conquistas do método científico é a única legitimidade que tem coerência do saber científico. Há muitas vezes descrédito a qualquer idéia de bom senso ou de algo que se refere somente a palavra , havendo consequentemente de ser enquadrado no modelo convencionado .

As organizações manufatureiras amadureceram com a própria economia capitalista incluindo a ação individual ou a controlada pelo estado . Esse fato fica mais evidente quando recorremos a alguns expoentes citados amplamente em textos de economia e na história das organizações. Um deles , talvez o que merece o primeiro destaque, é Adam Smith que tenta explicar o desenvolvimento econômico a partir de um afastamento da ação dos governos da gestão da economia, deixando o desenvolvimento econômico a cargo da iniciativa privada, que se auto controla, através de uma ação não visível decorrente do somatório dos interesses pessoais de cada individuo , provendo assim a riqueza da nação . David Ricardo reforça esses conceitos concluindo que o valor de um produto ou serviço deriva do trabalho nele empregado , valorizando segundo o interesse de cada um . Keynes é quem contrapõe explicando como o estado pode fomentar o crescimento econômico através dos gastos públicos, uma forma de injetar capital no mercado aquecendo a demanda e aumentando o emprego e a renda. Segundo Keynes , cabe ao estado, então, controlar seus investimentos de modo a estimular ou desestimular a economia, de acordo com o momento vivido pelo país . Vemos no decorrer da história os questionamentos e contrapontos de se ter um envolvimento ou não do estado no poder , propiciando o desenvolvimento e cedendo a livre iniciativa para crescimento das organizações , basicamente crescerá esta discussão a medida da concretude do sistema capitalista .

O economista Beard , M. em Heilbromer (1992) resume os antecedentes de um capitalismo concreto esclarecendo que os agentes para sua constituição : terra (matéria prima), trabalho (operário) e capital (recursos e ferramentais) tinham no passado outra conotação o que ele chama de “abstrato” . Diz ele :


“a Idade Média, a Renascença,a Reforma - sem dúvida o mundo inteiro até o século dezesseis ou dezessete - podiam  não vislumbrar o sistema de mercado pelo simples motivo de que Terra, Trabalho e Capital - os agentes básicos de produção alocados pelo sistema de mercado - ainda não existiam. Terra, trabalho e capital no sentido de solo, seres humanos e ferramentas coexistiam, é claro, com a própria sociedade. Mas a idéia de terra abstrata, de trabalho abstrato não sugeria à mente humana, de imediato, mais do que a idéia de energia ou matéria abstrata. Terra, trabalho e capital como agentes de produção, como entidades econômicas impessoais e não humanas, são tão modernos como concepção quanto o cálculo. Sem dúvida, não são muito velhos. (BEARD, M apud HEILBRONER, 1992

Esta citação,obviamente, atende para contextualização sobre evolução proposto nesta dissertação , já que o modelo de organização sugerido e analisado posteriormente será o que é considerado moderno e para entendimento também chamarei “concreto” pois possui clara concepção para terra (matérias primas), trabalho ( mão de obra) e capital ( maquinas e equipamentos), diferente das estruturas do inicio do processo de industrialização , mas que já começavam a despontar no Séc. XVIII , criando grandes estruturas .


Iria maravilhar-se com a fábrica construída pelos irmãos Lombe, em 1742. Era um edifício enorme para aquele tempo, com cerca de cento e cinqüenta metros de comprimento e seis pavimentos, tendo em seu interior as máquinas descritas por Samuel Defoe como consistentes em 26 586 Rodas e 97 746 Movimentos, que produzem cerca de 6 741 metros de fio de seda cada vez que a roda-d’água completa uma volta, o que acontece três vezes em um minuto. (BEARD, M apud HEILBRONER, 1992)


Para compreensão da força destas organizações , que antecedem o início do século XX , cito inicialmente Dobb (1988) no livro sobre A Evolução do Capitalismo, onde ele apresenta e examina historicamente o amadurecimento da organização manufatureira desde o declínio do feudalismo e a partir do crescimento do comércio da Europa Ocidental . Insiste , ele que a própria aparição das grandes cidades,o aparecimento da burguesia, o crescimento dos mercados e dos primeiros sistemas industriais são resultantes e somente aparecem como públicos envolvidos , em razão desta evolução .
A própria acumulação de capital, característica dos sistemas capitalistas, seguindo ele é a evolução resultante das mudanças geradas em séculos sendo  basicamente isso que molda a discussão da evolução do capitalismo .O texto do livro nos leva a uma reflexão e formulação de juízos sobre o que antecedeu antes das organizações manufatureiras ,fora do contexto do modelo de capitalismo como o conhecemos hoje . Neste sentido , uma abordagem que ele apresenta mencionando “algumas das modificações técnicas nas forças produtivas que caracterizam o século XX”  e que elas tiveram um significado muito maior do que se observou na época , mas somente foram estudados posteriormente. As tais “modificações técnicas” abrangem quase três séculos , incluindo a chamada Revolução Industrial , que culminam no conjunto de adaptações que foram popularmente conhecidas como produção em massa , sendo a mais conhecida delas , à introdução de esteiras rolantes de fluxo continuo, movimentando o produto através de etapas sucessivas e seqüenciais de montagem governada por um processo acionado mecanicamente e alguns já auxiliados pela eletricidade como força motriz. Comenta Dobb citando H.Jerome  :


Um traço básico de grande parte de nossa moderna produção em massa é a serialização de máquinas e processos, de modo a reduzir a manipulação a um mínimo e a arrumar a montagem e outras operações num transportador continuo ou intermitente, com os processos altamente subdivididos e padronizados. H. Jerome, Mechanization in industry , citado por( DOBB,1988: p.358)


Este sistema mecanizado veio posteriormente ser conhecido como fordismo . Segundo Harvey , o inicio simbólico de inicio do fordismo foi 1914 quando se introduziu as linhas de montagem ,uma jornada de horas . Para ele , o que o sistema  tinha de especial era a visão de seu idealizador , Henry Ford , este possuía uma  convicção explicita de que “produção em massa significa consumo de massa” e conseqüentemente um outro tipo de sociedade . Sobre este aspecto retomaremos posteriormente citando outros empresários que desmembraram o estilo fordista .
Como Harvey esta pensando este impacto na sociedade , diz ainda :
Ford acreditava que o novo tipo de sociedade poderia ser construído simplesmente com a aplicação adequada do poder corporativo . O propósito só em parte era obrigar o trabalhador a adquirir a disciplina necessária à operação do sistema de linha de montagem de alta produtividade . (o que Ford desejava ) Era também dar aos trabalhadores renda e tempo de lazer suficientes para que consumissem os produtos produzidos em massa .  (Harvey 1993:121-122)

Portanto, os sistemas de produção que outrora se achavam separados e frouxamente coordenados, através do sistema fordista ,foram firmemente integrados e contínuos ,em vez de intermitentes, criando assim um modo de produção e mecanismos propulsores para o capitalismo . 

O que diria Pitágoras ?












O que diria Pitágoras ? 

sábado, 21 de agosto de 2010

Filosofia medieval

Filosofia medieval é a filosofia da Europa no período conhecido como Idade Média, sendo este compreendido entre a queda do Império Romano no século V d.C até a Renascença no século XVII. A filosofia medieval é definidade, em parte, pea necessidade de tratar de problemas teológicos e integrar a sagrada doutrina do cristianismo com o conhecimento secular.
A história da filosofia medieval é tradicionalmente dividida em três períodos principais: o primeiro até o século XII, com; o Ocidente Latino preservando e cultivando as obras de Aristóteles e Platão; a "Idade de Ouro" dos séculos XII, XIII e XIV, que testemunha o ápoce da descoberta da filosofia antiga, e desenvolve importantes teoris no campode Filosofia da Religião, Lógica e Metafísica.

A Idade Medieval foi desmerecida pelos humanistas da Renascença, qe viam nela um período intermediário entre a cultura clássica da Grécia e de Roma e a Renascença de seus seus valores, apesar deste período ter durado aproximadamente mil anos e ser o mais longo período de desenvolvimento filosófico na Europa, e um dos mais ricos.
Os problemas discutidos durante a Filosofia Medieval tratam da relação entre fé e razão (fides et ratio), com o latim da igreja romana predominando no mundo da cultura. Os filósofos medievais tratam da existênciae natureza de Deus, e o propósito da teologia é justificar naturalmente, através da razão, a "verdade revelada" da Bíblia pela fé. Para isso abordam também o problema do conhecimento, dos universais, do individualismo e da metafísica.
Aqui no Consciência contamos comum vasto conteúdo sobre a Filosofia na Idade Média, incluindo um ebook completo de História da Filosofia de Johannes Hirschbeger. 


Navegue abaixo e bons estudos!


http://www.consciencia.org/temas/filosofia-medieval

Quem foi Joaquim de Fiore ?

Introdução

Durante as aulas , temos estado diante da reflexão de autores e textos que retratam o panorama histórico onde se desenvolveu o pensamento filosófico medieval, acredito que observamos, como eles apresentam aspectos controvertidos e por vezes assustadores .

Diante do que verificamos , retomo apenas este panorama e contexto histórico para refletir-mos sobre as idéias do protagonista deste trabalho , quero citar ,sem necessariamente aprofundar, três características que parecem ter sido comuns às várias tendências da filosofia medieval e que contrastam com o pensamento antigo e moderno dando-lhe características especificas :
1) a estreita relação entre filosofia e religião, isto é, entre filosofia e teologia, que foi sintetizada na frase - philosophia ancilla theologiae (a filosofia é serva da filosofia);
2) a influência de Aristóteles em todos os campos (lógica, ética, filosofia natural e metafísica), como fator decisivo na formação do pensamento medieval;
3) a unidade de método (a questio e a disputatio), que é, ao mesmo tempo, método de exposição e de investigação.

desenvolvimento do conhecimento durante esse período, conta com particularidades diversas que se afasta daquela perspectiva que a define como a “idade das trevas” como é amplamente conhecido. Contudo, a predominância dos valores religiosos e as demais condições específicas fazem do período medieval muito singular em relação aos demais períodos históricos. Nesse sentido, o expressivo monopólio intelectual exercido pela Igreja vai estabelecer uma cultura de traço fortemente teocêntrico. È neste contexto que aparece o joaquimismo , termo utilizado para descrever as idéias do Monge Cisterciense Joaquim de Fiore[1] da região da Calábria.

Quem foi Joaquim de Fiore ?

Segundo a historiadora Rossato (2004) “Joaquim de Fiore foi poeta, artista e visionário” também considerado um místico, teólogo e filósofo da história, foi o fundador da ordem monástica de San Giovanni em Fiore , monge nascido no ano de 1130 (ou 1135) na região da Calábria gozava já durante a sua permanência na Ordem de Cister de uma fama de “homem santo” e de idéias bastante controversas , foi por esse prestigio que não demorou muito para que abandonasse a congregação e criasse sua própria Ordem (Delumeau , 1997). Suas idéias se baseavam principalmente na sua teoria dos tempos da cristandade : três idades (quadro 1)  do mundo correspondentes à trindade do cristianismo , o tempo do Pai que teria começado antes da graça com Adão , teve seu apogeu com Abraão e terminou com o nascimento de Cristo , o tempo do Filho que é o da graça , inicia-se com o Rei Orzias , floresce com João Batista e Jesus e estaria próximo do fim , e o último dos tempos o do Espírito Santo que seria o da graça maior , teria começado com São Bento e frutificaria em breve com o retorno de Elias e terminaria com o Juízo Final. Segundo Rossato (2004) é importante ressaltar que no sentido radical das palavras Joaquim de Fiore não é milenarista por que não fala sobre a duração deste último período e nem é messianista pois não fala sobre a volta do messias , estes conceitos mudam constantemente na sua migração e são reinterpretados a cada nova escala da expansão do seu pensamento e seguidores “joaquimismo”. Fiore fala sobre “um período de descanso da terra” que o vai caracterizar como místico e foco de contestações ao ser citado postumamente  (Delumeau, 1997) .
As suas colocações têm merecido, ao longo dos séculos, o estudo de dezenas de acadêmicos e de teólogos. Um exemplo recente é que em 1982 foi criado, na Itália, o Centro Internacional de Estudos Joaquimitas e nas Irmandades do Divino Espírito Santo, nos Açores e em comunidades açorianas no continente americano encontramos, atualmente, um reduto destas idéias. 

O joaquimismo[2] apresenta uma maior dificuldade de se pesquisar em português, mas o que se publicaram , basicamente, nos esclarece que suas raízes estão nos textos bíblicos e no Torá e a partir desta informação foi que entramos no campo específico do interesse das religiões . Se ponderarmos que o judaísmo e o cristianismo são as duas religiões predominantes na formação do ocidente, e tem suas divisões do mesmo tronco teológico com crenças predispostas ao milenarismo e ao messianismo fica mais claro o impacto do pensamento também na nossa cultura. Para ambos “o mito escatológico (....) se diferencia dos demais pela pregação de uma purificação e não de uma nova concepção , e este paraíso devolvido não terá mais fim “. O tempo circular da eterna destruição reconstrução dá lugar ao tempo linear sem repetições . Além do mais se insere o componente messiânico articulado com o fim do mundo e a chegada do paraíso. Sobre este aspecto é preciso distinguir entre o que o mistico calabrês disse e a sua "posteridade" entendeu , e como foram traçados itinerários filosóficos e religiosos que chegam até aos nossos dias ligados a pensamentos religiosas . O Padre de Lubac que procurou estudar as pegadas do joaquinismo no decurso dos séculos, afirma que "a história da posteridade espiritual de Joaquim é também, e na maior parte, a história das traições ao seu pensamento" . Em 1263, no Sínodo de Aries, a Igreja Católica Romana julgou parte das suas doutrinas como hereges e recentemente fez menção ao seu VII centenário de sua morte . (anexo  )   


 Quadro 1

Resumo : Teoria das três idades

O fundamento místico da doutrina de Joaquim de Fiore é a do "Evangelho Eterno", fundado na interpretação do texto em Apocalipse 14:6.
Suas teorias podem ser consideradas milenares , ele acreditava que a história, por analogia com a Trindade , foi dividida em três épocas fundamentais:
§                     A Idade do Pai, que corresponde ao Antigo Testamento , que se caracteriza pela obediência da humanidade com as Regras de Deus;
§                     A Idade do Filho, entre o advento de Cristo e 1260, representado pelo Novo Testamento , quando o homem tornou-se filho de Deus;
§                     A Era do Espírito Santo, iminente (em 1260), quando a humanidade estava a entrar em contato direto com Deus, alcançando a total liberdade pregada pela mensagem cristã. O Reino do Espírito Santo, uma nova dispensação do amor universal, de proceder a partir do Evangelho de Cristo, mas transcende a letra dela. Nesta nova era da organização eclesiástica seria substituído ea Ordem da Just iria governar a Igreja. Esta Ordem dos Justos foi mais tarde identificado com o franciscano ordenar por seu seguidor Gerardo de Borgo San Donino .
De acordo com Joaquim, somente nesta terceira idade será possível entender realmente as palavras de Deus no seu significado mais profundo, e não apenas literalmente. Ele concluiu que esta era começaria em 1260 baseado no livro do Apocalipse (versículos 11:3 e 6, que menciona "um mil duzentos e sessenta dias").  Neste ano, em vez da parusia ( segundo advento de Cristo), uma nova época de paz e concórdia começaria, tornando a hierarquia da Igreja desnecessários.Joaquim distinguir entre o "reino de justiça" ou de "lei", em uma sociedade imperfeita, e o "reino da liberdade" em uma sociedade perfeita .

Conclusão

No centro da herança visionária de Joaquim de Fiore, encontramos a idéia de uma "fase final" da História, uma época vindoura de fraternidade e de plena liberdade para o ser humano. O apogeu da história será sinalizado pelo aumento da espiritualidade no mundo, um tempo do intelecto e da ciência.








Bibliografia

DELUMEAU , Jean , Mil anos de felicidade , uma história do paraíso , São Paulo , Companhia das Letras , 1997.
FALBEL, Nachman. Heresias medievais. São Paulo: Perspectiva, 1999.

ROSSATO, Noeli Dutra. Joaquim de Fiori: Trindade e Nova Era. Porto Alegre: Edipucrs, 2004.
(Coleção Filosofia, 173).

Sites

http://books.google.com.br/books?id=Z5coUlw1W0cC&pg=PA39&dq=Joaquim+DI+Fiori+-+Trindade+e+Nova+Era+-Rossato,+Noeli+Dutra&source=gbs_toc_r&cad=5#v=onepage&q&f=false

www.abrem.org.br
ABREM, Associação Brasileira de Estudos Medievais











































Anexo
CARTA DO CARDEAL AO ARCEBISPO DE 
COSENÇA-BISIGNANO, D. GIUSEPPE AGOSTINO
  POR OCASIÃO DO VIII CENTENÁRIO
 DA MORTE  DE JOAQUIM DE FIORE
Excelência Reverendíssima
A Arquidiocese de Cosença-Bisignano, confiada aos seus cuidados pastorais, prepara-se para celebrar o VIII centenário da piedosa morte do Abade Joaquim de Fiore, que ofereceu à sua terra de origem e a toda a Igreja um singular testemunho de fé. Tendo sido informado desta iniciativa, o Santo Padre desejar unir-se espiritualmente à acção de graças ao Senhor, da parte de todos, pelo dom que Ele concedeu à Igreja na pessoa deste sacerdote humilde e piedoso, enquanto formula votos a fim de que as celebrações centenárias suscitem nos fiéis dessa Arquidiocese e de toda a Calábria um apego mais consciente  às  suas  próprias  raízes cristãs, em ordem a uma renovado impulso de fidelidade a Cristo e de amor aos irmãos.
No dia 30 de Março de 1202, no convento de São Martinho de Canal, Joaquim, Abade de Fiore, terminava a peregrinação da sua própria existência sobre a terra. Comentando este acontecimento, Luca de Casamari, outrora Arcebispo de Cosença, escrevia que no sábado em que se cantava oSitientes lhe foi concedido - chegando ao verdadeiro sábado - apressar-se como um cervo até junto das fontes das águas (cf. Memorie, pág. 192).
Joaquim nasceu na localidade de Celino, na Calábria, por volta do ano de 1135 e, depois de ter sido ordenado sacerdote, com cerca de 35 anos de idade entrou primeiro no mosteiro cisterciense de Santa Maria da Sambucina, nos arredores de Luzzi, e depois no mosteiro de Corazzo, tornando-se o Abade do mesmo já no ano de 1177. Desempenhando esta função, de 1182 a 1183 foi a Casamari e ali permaneceu cerca de um ano e meio. O período passado nesse mosteiro permitiu-lhe trabalhar na redacção das suas obras principais. Logo que regressou a Fiore, deu vida a uma nova família monástica, cujas Constituições foram perdidas e hoje não se encontram.
Em virtude dos seus encargos e das suas inúmeras competências, Joaquim teve que empreender numerosos contactos com a Sé Apostólica. No mês de Maio de 1184 encontramo-lo em Veroli, com o Papa Lúcio III e a Cúria. Alguns anos mais tarde, vemo-lo em Roma, com o Papa Clemente III e, em 25 de Agosto de 1196, obtém do Pontífice Celestino III a Carta selada Cum in nostra,mediante a qual é aprovada a família monástica por ele mesmo fundada.
É verdade que, em seguida, o Concílio Lateranense IV teve de corrigir determinados aspectos da sua doutrina trinitária e que a sua doutrina do ritmo trinitário da história criou graves problemas na primeira fase da história franciscana; todavia, o próprio Concílio Lateranense IV defendeu a sua integridade pessoal, comprovada através da sua carta escrita ao Papa Inocêncio III ("Protestatio") e do seu Comentário ao Apocalipse. Entre os seus leitores e apreciadores, Joaquim contou com o Papa Inocêncio III, que várias vezes quis citá-lo nos seus documentos. O Abade de Fiore professou sempre a fidelidade e a obediência à Sé de Pedro, à qual submeteu com humildade as suas próprias obras. No Comentário ao Apocalipse, assim expõe o motivo deste seu comportamento:  se São Paulo "transmitiu os seus escritos aos apóstolos que o precediam, na dúvida de correr ou de ter corrido em vão (cf. Gl 2, 2), com maior razão eu, que nada sou, não desejo ser juiz de mim mesmo, mas deve sê-lo sobretudo o Sumo Pontífice, que julga todos e ele próprio não é julgado por ninguém" (fol. 224 ra-b). Estas  afirmações  foram  novamente propostas também na Epístola do prólogo,  que  é  considerada  como  o  seu "testamento".
Tanto nos seus escritos como na sua vida terrena, Joaquim manifesta-se como uma pessoa inebriada de Deus, um apóstolo ardente de zelo, um pregador apaixonado. Ele foi um homem da Palavra. A sua obra exegética - apesar dos problemas que ela apresenta - merece um estudo atento e pode constituir uma fonte de conhecimentos úteis, inclusivamente em virtude do seu espírito ecuménico.
Da contínua meditação da Palavra revelada, Joaquim tirou a energia espiritual para indicar aos homens os caminhos de Deus. O seu biógrafo recorda que "no tempo da ira, como outro Jeremias, Joaquim fez-se reconciliação, intercedendo sobretudo em benefício dos pobres" (Vita, pág. 190). Ele não teve medo de enfrentar com o rosto descoberto os poderosos da terra, como o imperador Henrique VI, a quem convidou a renunciar ao seu comportamento indigno, se não quisesse padecer a ira divina (cf. ibid., pág. 189). Além disso, mostrou determinação também em relação à imperatriz Constança (cf. Memorie, pág. 195).
Joaquim, que considerava o amor à Palavra de Deus como a finalidade e a paixão da sua existência, recorda ao homem contemporâneo, inundado de palavras e com frequência fascinado por pseudovalores, que "uma só coisa é necessária" (Lc 10, 42), e que é preciso viver de "toda a palavra que sai da boca de Deus" (Mt 4, 4). Além disso, testemunha que as sagradas Escrituras devem ser lidas com a Igreja e no interior da Igreja, "acreditando integralmente naquilo que ela crê, aceitando as suas emendas tanto em relação à fé como no que diz respeito aos costumes, rejeitando o que ela nega, acolhendo aquilo que ela aceita e acreditando firmemente que as portas do inferno não podem prevalecer contra ela" (Epístola do prólogo).
Ele tinha grande consideração pela oração e a contemplação, vividas no silêncio e na tranquilidade, na busca constante de Deus, o "Pai das luzes, em quem não há fases nem períodos de mudança" (Tg 1, 17). A sua experiência singular constitui para o crente do nosso tempo uma poderosa exortação a não ter medo da solidão, mas a constelar a sua existência com momentos de recolhimento e de oração, para voltar a descobrir no encontro com Deus a possibilidade de uma existência mais completa e mais autêntica.
O Abade de Fiore viveu em grande pobreza e considerou a posse de Deus como a sua única verdadeira riqueza. Indiferente ao prestígio que lhe chegava do seu cargo e da estima dos poderosos do seu tempo, teve sempre uma atitude humilde e foi tenaz e alegre imitador do Filho de Deus que, rico como era, se fez pobre por nós (cf. 2 Cor 8, 9), a ponto de não ter onde repousar a cabeça (cf. Mt 8, 20). A sua referência contínua a Cristo, "manso e humilde de coração" (cf. Mt11, 29) é recordada pelo Arcebispo D. Luca de Casamari que, descrevendo como o Abade ia frequentemente limpar "com as suas próprias mãos toda a enfermaria" (Memorie, pág. 195), acrescenta:  "Admirava-me que um homem de tanta fama, cuja palavra era tão eficaz, trouxesse vestes tão velhas e usadas, parcialmente rotas nas franjas" (Ibid., pág. 191). Esta peculiar aspiração à pobreza e ao recolhimento faz de Joaquim uma poderosa exortação a considerar os valores perenes do Evangelho, como o melhor modo oferecido aos homens de todos os tempos, para edificar um mundo mais justo, fraterno e solidário.
Considerando os testemunhos de virtude autenticamente cristãos, oferecidos pelo Abade de Fiore, o Sumo Pontífice formula bons votos a fim de que esta celebração do VIII Centenário da morte de Joaquim constitua para a Arquidiocese de Cosença-Bisignano - sua terra natal, que conserva também os seus restos mortais - assim como para o Povo de Deus que vive na Calábria, uma preciosa ocasião de reflexão e de edificação espiritual. Com estes votos, Sua Santidade envia uma especial Bênção Apostólica a Vossa Excelência Reverendíssima, aos fiéis da Arquidiocese de Cosença-Bisignano e a quantos, animados por um sincero desejo de verdade, se aproximarem da figura deste insigne filho da Calábria durante as celebrações jubilares.
Uno os meus votos pessoais de pleno êxito das celebrações programadas, enquanto aproveito este ensejo para me confirmar com expressões de distinto respeito.
De Vossa Excelência Reverendíssima dev.mo
 Card. ANGELO SODANO  Secretário de Estado



[1] Fiore também soletrado Floris, do italiano Gioacchino Da Fiore existem várias grafias para o mesmo nome adotarei no decorrer deste trabalho o Joaquim de Fiore    
[2] Sobre o joaquinismo a bibliografia é abundante em italiano. Cfr. os numerosos estudos dedicados por Mons. Giovanni DI NAPOLI ao abade calabrês: "La teologia trinitaria di Gioacchino da Fiore", in Divinitas, n° 3 (Outubro de 1976); id., "L'ecclesiologia di Gioacchino da Fiore", in Doctor communis, n° 3 (Setembro-Dezembro 1979); id., "Teologia e storia in Gioacchino", in "Storia e messaggio in Gioacchino da Fiore", Actas do Congresso Internacional de Estudos Joaquimitas (19-23 de Setembro de 1979), Centro di Studi Gioachimiti, S. Giovanni in Fiore, 1980, pp. 71-150. Cfr. também Marjorie REEVES, Beatrice HIRSCH-REICH, "The Figure of Joachim of Fiore", Clarendon Press, Oxford, 1972; Delno C. WEST e Sandra ZIMDARS-SWARTZ, "Joachim of Fiore: a Study in Perception and History", Indiana University Press, Bloomigton, 1983; Bernard McGINN, "L'abate calabrese Gioacchino da Fiore nella storia del pensiero occidentale", tr. it. Marietti, Génova, 1990.